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Recordações  


Ilona Peuker - Grupo Unido de Ginastas - Recordações


Gymnaestrada, Viena, Áustria, julho de 1965


Brasilada – Haia, Holanda
IV Ginastrada Mundial – Viena, Áustria

Diário de Ingeborg Müller

DIA 12 DE JULHO DE 1965 - 2A. FEIRA
(Bruxelas)

Mais uma vez o telefone nos acordou cedo demais. Eram apenas 7h30 da madrugada. Muito a contragosto me levantei e depois de arrumar todas as coisas, desci para tomar café. Já estavam lá Daisy, Nena e Luiza, batendo papo com o garçom que falava um pouco de português. Eliana, Daisy e Lígia saíram em seguida porque ainda queriam ver o Hotel de Ville – a Grand Place, uma fantástica praça, rodeada de antigos e maravilhosos edifícios.

Chovia muito naquela manhã. Fomos para a estação de trem de táxi. Lá chegando retiramos a bagagem das meninas que haviam sido depositadas no guarda-malas e fomos esperar o trem. Depois de esperar aproximadamente 20 minutos, chegou o famosos TEE- eram 9h50. Logo vimos Sônia e Chiquita. O trem estava cheio e os nossos lugares eram separados, mas a viagem foi muito boa. Brincamos, passeamos, cantamos e relembramos as séries de ginástica. Chegamos em Amsterdam às 12h40 e pagamos um táxi até o hotel. Havia muita gente na entrada, como a delegação alemã de 34 pessoas. Tivemos que ficar esperando na rua até que a situação se acalmou. Aproveitamos o tempo para fazer o sorteio dos quartos e na recepção nos disseram que ainda não havia chegado ninguém da nossa turma. Depois de colocar todas as coisas nos quartos, fomos fazer um lanche no próprio hotel e lá encontramos D. Ilona. À tarde saímos para dar uma volta na cidade e eu aproveitei para dar uma passada na KLM para ver quais eram as possibilidades da viagem para Viena, mas não consegui nenhuma informação. Teria que ir ao aeroporto. Olhamos as lojas e vimos muitas coisas bonitas. Jantamos perto do hotel e depois de mais uma voltinha pelas ruas vizinhas fomos para casa.

Naquela noite tivemos uma longa conversa com a Lígia sobre espiritismo.


DIA 13 DE JULHO DE 1965 - 3A. FEIRA
Quando o telefone tocou às 7h e eu fui atender, não sabia em que língua deveria responder. Me levantei e vesti e fui tomar café com Luiza. Chiquita, Eli e Paiê, já estavam lá.

Mais tarde, Chiquita, Luiza, Eli e eu pagamos um ônibus da KLM até o aeroporto e eu desta vez consegui resolver a questão da minha passagem Amsterdam-Viena. Voltamos para a cidade e o trajeto que o ônibus fazia era lindo. Chegando ao hotel pegamos Paiê e Sônia e fomos fazer um passeio de barco pelos canais. Custava Fl. 2,10 e a “navegação” levou 1h15. Foi uma viagem muito linda, e pudemos ver a casa de Anne Frank, a casa mais estreita de Amsterdam, com apenas uma porta e uma janela, vimos também igrejas lindas e o porto. O guia falava inglês e alemão, depressa demais. Quando retornamos ao ponto de partida, compramos as fotos que haviam sido tiradas no embarque. Sempre uma boa lembrança. Logo encontramos o grupo que estava dançando ao som de um realejo, muito animado. Fomos todas almoçar e em seguida demos uma volta pelo centro. Durante um bom tempo eu andei sozinha e lá pelas tantas encontrei Chiquita. Fomos ao local de embarque dos barcos para pegar fotos e enquanto esperávamos ficamos dando comida aos patinhos. No caminho para casa encontramos a Judit e o Gustavo que haviam chegado. Fui jantar com eles e no restaurante encontramos a Lore que também chegara. Aos poucos a equipe ia se reintegrando. Naquela noite, D. Ilona foi jantar com o Reitor. Enquanto isto, nos quartos reinava a maior confusão: engraxar sapatos, passar roupa, encher as bolas etc.

Somente fui dormir às 11h30. Estava no mesmo quarto de D. Ilona.


DIA 14 DE JULHO DE 1965 - 4A. FEIRA
L
evantamos cedo naquela manhã e logo tomamos café. Pouco depois das 11h chegou uma mocinha que seria, a partir dali, a nossa acompanhante. Chamava-se Laura van der Endt. Pouco depois chegava também um ônibus grande de turismo. Como naquele dia era o aniversário da Anita, antes de sair ainda demos de presente a ela uma bonequinha holandesa, inflável, tipo João Teimoso. A viagem até Haia, onde seria a Brasilada, foi muito linda, mas tivemos que dar uma grande volta e o trânsito estava bem ruim o que fez com levássemos mais tempo para chegar ao nosso destino. A questão foi que o nosso chofer – o Nico – não sabia bem o caminho até o Overvoorde, onde ficaríamos alojadas. Era um alojamento muito bonito, em meio a um lindo parque, mas os quartos eram muito apertados. Ficamos assim divididas: num estavam Daisy, Eliana, Nena, Anita e Lore; no outro Chiquita, Sônia, Eli, Lígia e eu. Num terceiro Luiza e Judit, e D. Ilona estava num só para ela. Logo descemos para o almoço, mas ficamos muito decepcionadas quando encontramos café com leite, pão e geléia – imaginávamos que iriam nos servir um almoço. Depois de comer, trocamos de roupa e de ônibus seguimos para a Academia, ginásio onde faríamos a apresentação. Já na entrada vimos nossa bandeira brasileira. Quem nos recebeu ali foi Hilde Küpfer, uma antiga aluna de D. Ilona. Treinamos de 2h às 4h. Nico, o motorista, pediu para assistir. Estava curioso para saber o que aquelas mulheres de além-mar faziam. Assim que terminamos, voltamos para o alojamento. Passamos nossos uniformes azuis e voltamos à Academia. Fomos recebidas pela Professora van der Most e suas alunas. Ficara combinado que D. Ilona daria aula para as alunas dela e depois nós teríamos aula com ela. Dona Ilona deu, em primeiro lugar, a aula teórica e depois a prática e as meninas da van der Most tentaram acompanhar aula da melhor maneira possível. O Reitor e o Vice-Reitor estavam assistindo. Depois da aula, que foi de mais de uma hora, fizemos uma demonstração e os que nos assistiram gostaram muito, principalmente do folclore. Em seguido nos ofereceram café e coca-cola e depois o “nosso amor”, como já chamávamos o Nico, nos levou para casa, via Schreveningen, a famosa praia de Haia, onde existe até um restaurante sobre o mar chamado Copacabana. Mas não foi nele e sim num outro, mas simples, que bebemos algo, mas principalmente, comemos! Aproveitamos a oportunidade cantamos “Parabéns” para a Anita. Laura também estava lá conosco.

DIA 15 DE JULHO DE 1965 - 5A. FEIRA
Acordamos na bagunça de nosso quarto. Era pequeno demais para tanta gente e tanta coisa.

Depois do café que estava bem gostoso, saímos de ônibus para dar um passeio. O tempo estava cinzento e fazia bastante frio. Para alegria de todas não iríamos treinar naquele dia. Visitamos o Castelo da Paz e fomos à cidade em miniatura – Madurodam. Ficamos encantadas com a perfeição daquelas pequenas construções, Havia de tudo, castelos, palácios, aeroporto, aviões, trens, enfim era uma cidade completa. Linda, linda. Logo na entrada tiraram fotos, daquelas que a gente compra depois. Deixando Madurodam, fomos até à estação de trens para fazer as reservas para Viena, mas faltavam os “euraipass”, meu e do Paiê. Encontramos uma turma de brasileiros. Voltamos depois para o alojamento e mais uma vez tivemos uma grande decepção quando vimos o almoço - era novamente café!

Pouco depois já saíamos novamente, desta vez para fazer a aula da Profª. van der Most. A aula foi fogo, mas nós gostamos muito e Lígia e eu pensamos até em pedir pra que nos desse uma aula mais no dia seguinte. Nenhuma das holandesas alunas dela, assistiu a aula. Já no fim das 2 horas de aula, apareceu a Laura para nos levar de volta de ônibus. Antes de ir ao alojamento, porém, ainda passamos na estação de trem. Àquela altura já não conseguíamos quase andar, de tanto que doíam as pernas.

No alojamento foi-nos servido o jantar quando ainda não eram nem 17h30 e logo em seguida tivemos que nos vestir para a grande demonstração daquela noite - A Brasilada. Chegamos ao ginásio quando eram 7h30 e já havia muita gente. Às 8h em ponto começou o espetáculo. O primeiro grupo a se apresentar foi o de donas da casa e em seguida os meninos. No intervalo, fui com D. Ilona, cumprimentar o Embaixador do Brasil que ali estava nos prestigiando. Na segunda parte do espetáculo eles apresentaram as meninas da Profª van der Most e o trabalho delas foi muito bom. Depois fomos nós e tudo correu muito bem. A única coisa ruim foi a dor que sentíamos nas pernas e nas coxas, provocadas pelos exercícios da tarde e tivemos que começar a nos aquecer muito tempo antes, porque a musculatura parecia que ia rasgar, de tão tensa. Tudo culpa da van der Most. Acho até que pode ter sido de propósito, só para que não fizéssemos tão bem o nosso trabalho. Brincadeira! Mas não adiantou nada, porque nosso sucesso foi muito grande. Como número especial apresentamos o folclore e o povo vibrou.

Antes de ir para casa, exaustas, ainda fomos comer alguma coisa. Fazia bastante frio naquela noite.


16 DE JULHO DE 1965 - 6A. FEIRA
Eram 9h30 da manhã quando chegou a Hilde para nos acompanhar num grande passeio pelos arredores. O ônibus era grande e confortável, mas lá fora chovia tanto que respingava até dentro do veículo. O dia cinzento e frio fez com que a turma perdesse o interesse pela paisagem, e, assim, já cansadas de tantas atividades, muitas dormiram. Nena e eu ficamos fazendo versos. Almoçamos num bonito restaurante. Havia sopa e “eierkuchen” que estavam muito gostosos. Em agradecimento ao carinho demos uma flâmula e um escudo do GUG para a Hilde e para o Nico.

Voltamos diretamente para o alojamento. Jantamos cedo e saímos para nova demonstração. Todo mundo estava com “piriri”, e chamou-se até um médico. A demonstração foi repetição da noite anterior, como também o sucesso, e se não fosse a Lígia se sentir muito mal, tudo teria sido perfeito.

Saindo dali fomos para o clube dos estudantes da Academia, onde havia um montão de rapazes. Brincamos muito e dançamos samba com a Luíza “Let's Kiss” ao piano.

Quando resolvemos ir para o alojamento já eram 1h30 da madrugada e muitos dos rapazes nos acompanharam até o ônibus.

DIA 17 DE JULHO DE 1965 - SÁBADO
L
evantamos bem cedo, pois todas iriam viajar naquele dia, se bem que por vias diferentes. Às 9h em ponto o ônibus veio nos apanhar. Viajamos para aproximadamente 1h, tempo durante o qual conversamos muito e fizemos muitas fofocas. Paramos para tirar uma foto perto de um moinho. Quando chegamos ao aeroporto, D. Ilona, Anita, Judit e eu saltamos, pois iríamos de avião, enquanto que as outras iam até Utrecht onde pegariam o trem para Viena. Antes de despachar a bagagem, ainda abrimos as malas para guardar o uniforme da equipe com o qual vínhamos viajando. Anunciaram o embarque e eu tive que esperar até que todos embarcassem e aí vieram me dizer que lamentavam muito, mas que não havia mais lugar. Mesmo assim fiquei esperando e só não me preocupava muito porque eu tinha também feito reserva no trem. Passado algum tempo, vieram me dizer que eu poderia embarcar uma vez que haviam passado três passageiros para a primeira classe. Anita, Judit e eu conseguimos sentar juntas e eram 12h quando o avião decolou. A viagem foi muito boa, mas a Anita não se sentia muito bem. Apesar disto, conversamos o tempo todo e comemos. Depois de 1h30 de vôo, pousamos em Viena. O que me chamou a atenção, foi o fato de que havia três aviões russos parados ali. No hall do aeroporto havia cartazes da Gymnaestrada por toda parte, muito bacana. Amigos de D. Ilona estavam nos esperando. A retirada das bagagens foi rápida. Anita e eu embarcamos no Opel dourado do Sr. Schultz e D. Ilona e Judit seguiram no carro do Sr. Mondel. Fomos para a Boltsmangasse, onde havia o nome do Brasil e a bandeira brasileira, mas não pudemos ficar ali. Aproveitei uma folguinha e telefonei para a KLM, pois havia esquecido meu casaco vermelho a bordo. Fomos então para o Festbüro para resolver nosso caso. Já eram 4h15 da tarde e nós ainda não havíamos almoçado. Finalmente, depois de muito vai e vem, nos levaram para nosso alojamento.

Dona Ilona e Anita saíram para ir a Tulln, enquanto Judit e eu ficamos. Nosso quarto era um amor. Não esperamos muito para ir tomar um café ali perto e encontramos um lugar muito bonitinho no meio de um jardim. Voltamos para casa e começamos a arrumar nossas coisas, mas não tivemos tempo para deitar um pouquinho, porque às 8h já estávamos na portaria esperando pelo Sr. Mondel que ficara de nos buscar. Chovia muito, mas mesmo assim fomos para o Wienerwald, por estradas muito sinuosas e chegamos a um lindo restaurante. Fazia bastante frio. As outras, D. Ilona e Anita já haviam chegado. Jantamos muito bem.

Voltamos para casa – 6 em um só carro – apertadas, mas dormimos muito bem naquela noite.


DIA 18 DE JULHO DE 1965 - DOMINGO
O meu despertador tocou às 6h, conforme combinado, fui acordar D. Ilona, mas depois voltei para a cama e dormi até às 9h. As meninas chegariam às 7h20 e D. Ilona queria recebê-las.

Ficamos todas em casa naquela manhã, depois de um alegre reencontro. Mais tarde chegou o almoço, que estava muito bom. À tarde dormimos e ficamos em concentração e ainda havia muita coisa para ser resolvida em relação ao Grupo. Mais tarde, chegou a Brigitte, que seria nossa acompanhante, uma mocinha muito simpática. Quem nos telefonou depois foi o jornalista Peclat e à noite ele deu uma chegadinha no alojamento para nos cumprimentar. Antes disto, Chiquita, Lígia, Eli e eu fomos tomar café e ficamos conversando um bom tempo.Nos deitamos bem cansadas.


DIA 19 DE JULHO DE 1965 - 2 A . FEIRA
O despertador de D. Ilona, que ficava no meu quarto, tocou às 5h30 da madrugada e eu levantei para acordar o resto da turma. Às 6h30 já estávamos tomando café que atrasou um pouco. Brigitte chegou às 6h45 e pouco depois saímos. Nosso primeiro treino estava marcado para as 8,00h, na Stadthalle B, onde seria nossa apresentação. Treinamos durante uma hora e ao terminarmos, entrou em quadra a equipe da África do Sul. Saindo daquele ginásio seguimos para o Messepalast, onde treinamos mais uma hora, das 11h às 12h. Fomos para casa bem cansadas. O nosso almoço, que chegara às 11h, estava completamente frio.

A turma saiu logo depois do almoço, mas eu fiquei ainda um pouco deitada. Mais tarde fui de táxi para o Festbüro onde me encontrei com a Brigitte e o Peclat. Falamos com todos da organização, até com o secretário geral, na tentativa de resolver o problema do credenciamento dele. Nessa brincadeira levamos quase uma hora. Seguimos depois de táxi até o Concerthaus, onde deveríamos encontrar o resto da turma, quando chegamos lá o porteiro nos informou de que o grupo já havia seguido para o Donaupark, pois ele ouvira quando elas deram a ordem ao chofer de táxi. Uma vez mais pegamos um táxi e seguimos também para o Donaupark e Peclat filmou muita coisa, quando chegamos lá o táxi não podia entrar. Quando chegamos à torre, soubemos que nenhum grupo de brasileiras havia subido lá. Quando, depois de algum tempo, chegamos ao Pavillon vimos que os russos estavam treinando e foi ali que encontramos a turma. D. Ilona estava muito aborrecida com o tempo que perdêramos. O treino da URRS foi um show. Mais tarde chegou o Sr. Walter que levou D. Ilona e Anita e nós ficamos esperando pelo Félix que chegou depois. Ele nos colocou dentro de um carro do exército e o mais engraçado foram Luíza e Daisy subindo naquele carro. Ríamos muito e dávamos adeus a todos os carros que passavam por nós.

Íamos para o Heuriger e quando chegamos Luíza custou muito a descer do caminhão. No jardim do restaurante havia uma mesa reservada para nós e no princípio estávamos bem comportadas e quietinhas, mas, depois de um pouco de vinho, começamos a cantar. A nossa cantoria parece que incomodou algumas pessoas e a garçonete veio pedir que ficássemos quietas, porque estávamos atrapalhando os outros músicos. A mesa que estava ao lado da nossa, porém, pediu para que continuássemos. D. Ilona também chegou e aos poucos a coisa foi animando e no fim dançávamos todos, inclusive os austríacos e até cantamos “Wien, Wien, nur du allein...” juntas aos locais. Fizemos um cordão pelo jardim e nos sentamos em outras mesas, conversando com todos e acabamos ganhando até flores. A animação foi geral e depois de muita brincadeira, quando já eram 11h, deixamos o local. Fui para casa com o irmão (Harald) e a irmã da Brigitte.
Nota: no dia seguinte um jornal noticiou e elogiou nossa farra no Heiruger.


DIA 20 DE JULHO DE 1965 - 3A. FEIRA
Dona Ilona e eu resolvêramos dar uma volta na cidade, mas mudamos de idéia e fomos às compras com Anita e Eliana.

De lá, fomos para a Stadthalle onde iríamos almoçar e lá chegamos em cima da hora – 12h40, mas havia muita gente atrasada. O salão era muito grande e espaçoso, mas o movimento era infernal, uma enorme confusão. Vimos muitos suíços bonitos e conversamos com alguns portugueses, depois de jogar conversa fora durante algum tempo, seguimos para o ginásio, onde teríamos treinamento na Halle A. O técnico da Bélgica criou o maior caso porque teve que sair às 4h. Assistimos o treino da equipe norte-americana. O nosso foi rápido, de 20 minutos, mas a platéia aplaudiu.

Chegaram Mary e Anne.

Voltamos para casa correndo para trocar de roupa, mas acabamos nos atrasando para a abertura da Gymnaestrada. Quando chegamos, de táxi, ao lugar marcado, ficamos sem saber onde deveríamos nos colocar, até que encontramos o rapaz que carregava a placa do Brasil. No meio da confusão ainda encontrei a Nelly e o Carlo Vera com a equipe Venezuelana. D. Ilona não desfilou conosco pois iria encontrar um Ministro. O desfile aconteceu nas ruas da cidade e assim marchamos do Heldenplatz até o Rathaus e Lígia fez grande sucesso como porta-bandeira. Vimos um brasileiro no meio da assistência e muitos nos aplaudiam apesar da Luíza ter marchado com sapato furado. Lá no palanque estava D. Ilona, de camarote. Ficamos colocadas ao lado da equipe da África do Sul, para alegria minha e da Nena. Houve vários discursos, tocaram o hino da Gymnaestrada durante o hasteamento da bandeira da Gymnmaestrada. Foi um espetáculo muito bonito e emocionante. A Prefeitura estava lindamente iluminada e a bandeira da Gymnaestrada, com fundo branco, recebeu um iluminação também branca que fez com que ficasse ainda mais bonita. Foi tudo lindo, no final do espetáculo saímos também marchando pelas ruas e um repórter nos acompanhou durante um bom pedaço. Terminado o desfile, fomos procurar um lugar para comer. Acabamos entrando em um hotel e ficamos assustadas com sua elegância, nos decidimos pelo bar. Tentamos voltar para o alojamento de bonde, mas em virtude da hora já não havia o G2 e, assim, fomos de carro aos poucos. Achei linda a Wotivkirche, que estava toda iluminada.


DIA 21 DE JULHO DE 1965 - 4A. FEIRA
Na parte da manhã fomos assistir às demonstrações no Raymond Theater e vimos uma parte da equipe de Stuttgard, da equipe italiana e de uma equipe alemã. Saindo de lá, fui com Luíza, Lígia, Nena e Daisy marcar as passagens de trem para Veneza e para não perder o almoço, voltamos de táxi.

À tarde, resolvemos ficar em casa para descansar um pouco, no entanto apareceu um repórter e eu fiquei correndo de lá para cá resolvendo problemas da equipe. Às 7h já estávamos na Stadthalle para assistir a Noite Finlandesa. Foi um espetáculo muito bonito, mas o melhor foi um menino de 10 anos que fazia ginástica como se fosse gente grande. Comemos salsichas e compramos pipocas. Depois aconteceu o “Kamardschaftsabend” - Noite da Camaradagem. Primeiro assistimos a alguns ensaios de danças típicas e as meninas, claro, dançaram também. Em seguida, começou a demonstração dos folclores dos diversos países. A primeira foi a equipe da Turquia que com roupas típicas e velas nas mãos apresentou uma dança muito interessante. Seguiram-se mais algumas, por vezes bem chatas, e depois foi a nossa vez. Claro que foi um grande sucesso.

Viemos para casa, depois de ir ao Expresso tomar um café. Fomos todas!


DIA 22 DE JULHO DE 1965 - 5A. FEIRA
Naquela manhã nada fizemos: descansamos. À tarde seria nossa primeira demonstração. Apenas fui com Chiquita e Sônia ao banco trocar dinheiro e aproveitamos para fazer algumas compras. Nesse meio tempo, chegou a avó da Anita. Para não perdermos tempo, almoçamos em casa e em seguida fomos correndo para nossa estréia na Stadthalle. Estávamos um pouco nervosas porque havíamos mudado nossas colocações na série, mas felizmente correu tudo muito bem, apenas Lígia fez um passo-pulo em cima de um fotógrafo que invadira a área. Os aplausos foram muitos. Depois vários fotógrafos nos clicaram em cima de uma escada.

Fomos tomar alguma coisa e eu conversei com dois rapazes que não queriam acreditar que eu fosse brasileira e que nos convidaram para passear. Emocionante foi o fato do sul-africano ter se sentado à nossa mesa e deve ter sido de emoção que meu dinheiro se espalhou todo. Em seguida, Eli, Nena, Daisy e eu fomos para casa, onde tomamos um banho rápido e trocamos de roupa, voltando logo depois para a Stadthalle para assistir à Noite dos Melhores do Mundo. Sentamos num lugar muito bom. No intervalo, falei com o Reitor.

Em casa, ficamos conversando ainda por muito tempo.


DIA 23 DE JULHO DE 1965 - 6A. FEIRA
Acordei cedo e fui cortar o cabelo e no cabeleireiro comprei, por orientação dele, um pente sueco de metal, que não arrepiava o meu cabelo. Sempre, na Europa, por causa do clima muito seco, meu cabelo fica arrepiado quando o penteio ou passo escova, e aquele pente solucionava o problema.

Naquele dia, almoçamos num restaurante perto do alojamento e pouco depois já saíamos para nossa segunda demonstração, esta no Messepalast. O embaixador do Brasil, Mário Gibson Barbosa e dois secretários da embaixada, nos prestigiaram com sua presença. Também as holandesas foram nos assistir e mais uma vez o sucesso foi muito grande. Havia sido programado ainda um ensaio, mas acabamos não indo para não nos cansarmos demais, e, assim, terminada nossa apresentação, fomos diretamente para casa. Às 7h30 já estávamos saindo novamente, desta vez para assistir a Noite Escandinava na Stadthalle. No intervalo. encontramos o sul-africano que nos convidou para tomar alguma coisa, e Lígia aproveitou a oportunidade para convidá-lo para o Heuriger. Nena ficou em casa naquela noite. Quando chegamos no restaurante do Heuriger, já encontramos o Walter com a Ingrid com um montão de rapazes. Tivemos que sentar alternadamente. Quando chegou o restante da turma, começamos a fazer carnaval e até os donos do local ficaram nos assistindo. Eu sentei ao lado do Klaus, um rapaz muito bonito, mas pouco depois chegou o sul-africano e conversamos um pouco. A partir dali, Anita o monopolizou. À 1h30, depois de muita farra, resolvemos ir para um outro local. Judit, Eli e eu fomos no carro de um professor de tênis, na confusão, Anita se esqueceu do sul-africano. Também no outro local a farra foi grande. Luíza mandou brasa no piano e até fizemos ginástica. Ficamos até 3h30 e quando saímos já estava clareando. Pegamos um táxi para ir para casa, onde chegamos às 5h da madrugada.


DIA 24 DE JULHO DE 1965 - SÁBADO
Eram 9h da manhã quando chegou o Sr. Friedel, com a esposa e um filho lindo. A turma saiu para ver a demonstração das tchecas, mas eu fiquei para arrumar as malas. Depois do almoço, Lígia, Eliana, Lore, eu e as bandeiras, fomos de táxi para o Stadion, onde seria o desfile de encerramento da Gymnaestrada. Assistimos à demonstração dos thcecos e austríacos. Encontrei e conversei com um rapaz que havia estado no Heuriger e ainda falamos com o sul-africano. O tempo estava meio encoberto e parecia que ia chover, mas o desfile foi lindo e emocionante. No final houve a entrega das medalhas e o novamente o hino da Gymnaestrada. Mesmo durante a marcha final, recebemos muitas palmas e no meio de tudo isto o Sr. Sommer, criador da Gymnaestrada e já bem velhinho, correu para dar um beijo na D. Ilona. Na saída, perdemos o sul-africano de vista e logo começou a chover, mesmo assim, pegamos um bonde e fomos para o Donaupark. Foi uma pena porque a chuva atrapalhou a festa. Conseguimos somente comer salsichas e com dificuldade, pois havia muita gente. Fomos ao Pavillon, onde assistimos algumas danças folclóricas portuguesas, mais tarde houve queima de fogos. Despedimo-nos dos portugueses e em seguida Judit, Nena, Luíza, Eliana, Lígia e eu pegamos táxis e fomos para casa. Lá chegando pegamos nossas malas e nos despedimos de todos. Lígia chorou e Eliana também. O rapaz da portaria levou nossas malas para o carro e fomos para a estação de trem. O trem começou a andar e quase que Lígia ficou. Eram 22h10.

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